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Vacina experimental de mRNA contra HIV mostra resultados promissores em primeiros testes

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cientistas estão testando uma nova vacina contra o HIV usando a mesma tecnologia de mRNA (RNA mensageiro) que foi utilizada nas vacinas contra a Covid. Em um estudo experimental de fase 1, o imunizante teve êxito em estimular a produção de anticorpos capazes de neutralizar o vírus, o que, segundo os pesquisadores, representa um passo importante no desenvolvimento de uma vacina eficaz contra a doença que atinge cerca de 40 milhões de pessoas no mundo.

“O rápido desenvolvimento de vacinas de mRNA seguras e altamente eficazes para a Covid-19 demonstrou a utilidade dessa tecnologia para acelerar os testes vacinais”, cita a análise, publicada na quarta-feira (30) na revista científica Science, “gerando esperança de que resultados semelhantes possam ser alcançados no campo das vacinas contra o HIV”.

Para o estudo foram testadas três vacinas experimentais, todas com mRNA. Cada uma carrega instruções genéticas para que as células do corpo produzam diferentes formas da proteína do envelope do HIV, a camada externa que recobre o vírus. Essa proteína, por si só, não causa infecção, mas é suficiente para treinar o sistema imunológico a reconhecer e combater o HIV sem que a pessoa tenha entrado em contato com o vírus real.

A proteína do HIV foi apresentada ao sistema imunológico em duas formas: uma versão “solúvel” na célula e outra “ancorada” na membrana celular. Uma terceira versão foi modificada para evitar interações indesejadas com as células que o HIV ataca.

A forma “ancorada” se mostrou mais eficaz, gerando defesas mais potentes contra o vírus real. Essa versão mais eficaz também ativou células B (que produzem anticorpos e guardam memória imunológica) e células T CD4+ (que coordenam a resposta de defesa).

Os anticorpos neutralizantes permaneceram ativos seis meses após a última dose, indicando proteção prolongada. A eficácia, porém, ficou restrita ao vírus específico do estudo, não neutralizando outras variantes do HIV -ou seja, a vacina não induziu uma resposta “universal” contra o vírus.

O estudo envolveu 108 adultos saudáveis (entre 18 e 55 anos) divididos em seis grupos com diferentes combinações de doses e vacinas. Cada voluntário recebeu três injeções ao longo de alguns meses, permitindo avaliar a segurança e a resposta imune.

Em relação à segurança, a maioria tolerou bem a vacina, mas 7 participantes (6,5%) tiveram urticária, uma reação alérgica na pele. Em cinco casos a urticária se tornou crônica (durando mais de 6 semanas), uma frequência mais alta do que a observada em vacinas de mRNA contra a Covid. Não foram registrados eventos graves, e os pesquisadores agora estudam as causas dessa reação para garantir segurança em fases futuras.

A vacina está em fase experimental e ainda não foi aprovada para uso em larga escala, mas, para os pesquisadores, o fato de induzir anticorpos neutralizantes em 80% dos casos e ativar múltiplas camadas do sistema imune “representa uma plataforma promissora para o desenvolvimento clínico de vacinas contra o HIV”.

Desenvolver uma vacina contra o HIV é particularmente desafiador porque o vírus tem a capacidade de entrar em estado de latência -não sinaliza para o organismo sua localização, como se estivesse se escondendo do sistema de defesa.

Embora as terapias antirretrovirais consigam reduzir significativamente a carga viral, impedindo a evolução para Aids e tornando o risco de transmissão praticamente nulo, os medicamentos atuais não eliminam completamente o vírus devido a essa sua capacidade de se manter oculto.

Nesse contexto, a tecnologia de mRNA tem sido explorada de diferentes formas no combate à doença. Além da vacina preventiva, pesquisadores australianos desenvolveram recentemente um método de encapsulamento de RNA mensageiro em nanopartículas capaz de ativar o HIV em estado de latência, o que poderia ajudar o organismo a localizar e combater o patógeno com a ajuda dos medicamentos existentes.

Além do uso de preservativos, as medidas de prevenção incluem medicamentos pré e pós-exposição. Um tratamento citado como revolucionário é o lenacapavir, fármaco cuja aplicação pode ser feita de seis em seis meses e que tem se mostrado mais eficiente que o tratamento tradicional.

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