Mundo

Trump faz suspense sobre posição na Guerra da Ucrânia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após aproximar-se de Vladimir Putin na esperança de um cessar-fogo na Guerra da Ucrânia, o presidente Donald Trump agora faz mistério acerca de seus próximos passos, telegrafados até aqui como uma nova mudança de posição para pressionar o russo.

A resposta, disse o americano à rede NBC na noite de quinta-feira (10), será dada em uma “declaração importante” acerca do conflito a ser feita na próxima segunda-feira (14).

O Kremlin não piscou. O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, afirmou nesta sexta-feira (11) que o governo russo não sabe o que o republicano pretende fazer. “Estamos registrando cuidadosamente todas as nuances nos comentários do chefe de Estado americano”, disse.

Desde a semana passada, Trump voltou a sinalizar insatisfação com a Rússia. Na terça-feira (8), disse estar decepcionado com seu homólogo no Kremlin: “Não sei, Putin fala muita bobagem para a gente. Quer saber a verdade? Ele é sempre muito gentil, mas no fim não significa nada”, disse.

Ato contínuo, voltou a sugerir novas sanções. A Folha questionou uma pessoa com acesso a informações no governo russo sobre o clima interno com a renovada ameaça de Putin. Esse observador já havia dito que novas sanções são consideradas inevitáveis, restando saber em que categoria cairiam: simbólicas, efetivas, mas passíveis de absorção, ou tão explosivas que possam ser consideradas um ultimato de Trump a Putin.

Os dois primeiros cenários já foram abordados publicamente por membros do governo russo, mas não o terceiro. Uma dúvida central é se o americano montaria tal ultimato de forma a deixar Putin com a possibilidade de cantar vitória no conflito que iniciou em 2022, às expensas de Kiev, que certamente perderia território.

A renovada fase de imprevisibilidade de Trump, como as tarifas de importação para aliados como o Japão ou para o Brasil, adicionam tensão entre os russos. A Bolsa de Moscou afundou nesta sexta, registrando o menor volume de negócios do ano.

Na entrevista à NBC, Trump também alinhavou um plano confuso segundo o qual venderia armas à Otan e a aliança as repassaria à Ucrânia, sem dar detalhes. Na semana passada, o americano causou comoção ao suspender a entrega de mísseis de defesa antiaérea a Kiev prometidos no governo Joe Biden, mas depois disse que retomaria o envio.

O vaivém de Trump é vendido por seus admiradores como uma tática negocial, mas na prática tem causado sobressaltos e incertezas. Putin tem se aproveitado e obtido ganhos em solo e aumentou brutalmente nesta semana sua guerra aérea contra o país de Volodimir Zelenski.

Na quarta-feira (9), promoveu o maior ataque de todo o conflito e, no dia seguinte, repetiu a dose com menos intensidade. Já nesta sexta houve uma noite relativamente calma, com 79 drones e nenhum míssil lançado, quase 10% do total disparado há dois dias.

O “relativamente” fica por conta de quem foi atingido, no caso um prédio residencial em Kharkiv, segunda maior cidade ucraniana, onde nove pessoas ficaram feridas. A redução da escala não foi comemorada: a Força Aérea de Zelenski teme que Putin esteja preparado um grande ataque com mais de mil drones e mísseis.

Isso pode ocorrer, segundo um analista militar russo disse à reportagem, já neste fim de semana, como forma de chegar ao dia da “declaração importante” de Trump numa posição de força. Há um consenso em Moscou de que o americano pode reclamar da violência, mas que o respeito e admiração que demonstra pelo russo estão ligados a essas demonstrações de poder bruto.

Peskov também retomou as crítica à Europa. Na quinta, o presidente Emmanuel Macron e o premiê Keir Starmer reiteraram a disposição de enviar uma força de paz franco-britânica à Ucrânia em caso de um cessar-fogo.

Segundo o porta-voz, isso é inaceitável. “De fato, estamos muito decepcionados porque os sinais absolutamente claros e consistentes que estão sendo enviados por Moscou sobre esse assunto não estão sendo levados em conta e não estão sendo compreendidos”, disse.

Na semana passada, Macron ligou para Putin pela primeira vez em quase três anos. Peskov também criticou os “sentimentos militaristas” da Europa, como as promessas de rearmamento e declarações mais agressivas do premiê alemão, Friedrich Merz.

Curiosamente, ele não comentou o fato mais importante do encontro Macron-Starmer, que foi a decisão de unificar o planejamento de operação do arsenal nuclear dos dois países, uma forma de tentar mostrar independência ante Trump e dissuadir a Rússia de eventuais agressões.

Fonte

Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos relacionados

Mundo

vai acelerar ou frear a IA feita aqui?

No dia 0, a empresa decide contratar um time sênior de advogados...

Mundo

Rússia confirma atuação de tropas norte-coreanas na guerra da Ucrânia

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, reconheceu neste sábado...

Mundo

X é investigado na França por facilitar interferência na política do país

O deputado pró-governo Éric Bothorel, que apresentou a primeira denúncia, alertou sobre...

Mundo

Rival de Zelensky é morto a tiros em frente à porta de colégio, em Madri

O ex-assessor do ex-presidente da Ucrânia Viktor Yanukovych, Andriy Portnov, de 52...