Mundo

STF e o artigo 19 do Marco Civil da Internet

Três votos, três caminhos

Até aqui, três votos foram proferidos — e cada um aponta numa direção bastante distinta. O voto do Ministro Dias Toffoli propõe um regime de responsabilidade objetiva para conteúdos relacionados a temas como violência contra crianças, terrorismo, incitação ao ódio e até violações a direitos autorais (o que, por sinal, não existe em lugar nenhum do mundo). Ao dispensar a necessidade de culpa, Toffoli abre a porta para um modelo de responsabilidade que recai nas empresas simplesmente porque o conteúdo foi ao ar. Se é verdade que uma parte importante da moderação de conteúdo já é automatizada – e impede mesmo conteúdos identificados como danosos de se tornarem públicos – o salto dado pelo Ministro transforma o que é uma tecnologia repleta de erros e acertos em obrigação legal.

Já o voto do Ministro Luiz Fux propõe um modelo de “notificação e retirada” que levanta preocupações. Na prática, qualquer pessoa que se sinta ofendida em sua honra poderia notificar uma rede social exigindo a remoção de um conteúdo, ainda que se trate de uma reportagem ou crítica legítima. Caso a remoção não ocorra, a plataforma se tornaria automaticamente responsável por sua manutenção. Esse desenho cria um efeito duplo: incentiva a remoção preventiva de conteúdos e estimula o litígio judicial, agora com o argumento facilitado de que houve desobediência à notificação.

O voto do Ministro Barroso busca um caminho do meio. Estabelece um dever de cuidado mais amplo para as plataformas, mas evita o regime de notificações que, segundo ele, poderia ter efeitos intimidatórios. No que diz respeito a conteúdos ilícitos — especialmente crimes — Barroso entende que, uma vez notificados, as plataformas devem sim agir para removê-los. Para os casos envolvendo honra, contudo, o Ministro prefere que a decisão final seja do Judiciário, preservando a mediação institucional nesses casos sensíveis.

O que vem pela frente

Com a retomada do julgamento, os olhos se voltam agora ao voto do Ministro André Mendonça. Espera-se que sua manifestação traga mais força à defesa da liberdade de expressão, mas ainda não se sabe quais serão os seus contornos — e a quais novas exceções ao artigo 19 ele estará disposto a aderir. De todo modo, o fato é que, ao fim do voto de Mendonça, o plenário terá diante de si quatro visões bastante distintas sobre a responsabilidade de plataformas, e o desafio passará a ser identificar convergências mínimas e administrar divergências.



Fonte

Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos relacionados

Mundo

Oracle dispara mais de 40% na bolsa e Ellison se aproxima de Musk como mais rico do mundo

“Nos próximos meses, esperamos conquistar vários clientes adicionais de vários bilhões de...

Mundo

Morre Charlie Kirk, aliado de Trump, após ser baleado em evento no Utah

O ativista ultraconservador norte-americano Charlie Kirk morreu, esta quarta-feira (10), após ter...

Mundo

data e onde será visível

Por isso, sua sombra nunca cobre o globo inteiro: trata-se de uma...

Mundo

Brasileiro condenado por tráfico de drogas na Tailândia tem pena reduzida por perdão do rei

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Preso em 2022 ao desembarcar no aeroporto...