A religiosa brasileira Aline Maria de Carvalho, ex-abadessa de quatro mosteiros cistercienses na Itália, entrou na Justiça italiana com uma ação por calúnia e difamação após ser afastada do comando das instituições. O caso foi revelado em reportagem exibida neste domingo (30) pelo Fantástico, da TV Globo.
O ponto de virada ocorreu em janeiro de 2023, quando uma carta anônima com acusações contra a freira foi enviada diretamente ao papa Francisco. No documento, ela é acusada de maltratar outras religiosas e de cometer irregularidades financeiras. A denúncia desencadeou investigações e visitas ao mosteiro de Vittorio Veneto, onde a freira vivia em clausura com outras 18 monjas.
Aline nega todas as acusações. Ela afirma que a carta foi escrita por uma freira responsável pelas noviças, com apoio de outras três religiosas, e diz ter prints e vídeos que comprovariam que uma delas acessava sites de conteúdo pornográfico no computador comunitário do mosteiro.
Em 2018, aos 34 anos, irmã Aline foi nomeada abadessa, tornando-se a responsável por quatro mosteiros localizados em diferentes regiões da Itália. Segundo ela, sua ascensão não foi bem recebida por parte da liderança masculina da ordem, especialmente pelo abade geral Mauro Giuseppe Lepori.
“Desde sempre, a questão de ser jovem, de ser bonita, tudo isso já pesava. E só foi somando. ‘A tua beleza não ajuda, não é boa…’. Era um contexto mais para ridicularizar”, disse a religiosa ao Fantástico.
O programa tentou contato com o abade, mas não obteve resposta.
Acusações financeiras não se confirmaram
Entre as denúncias, havia a suspeita de desvio de recursos no mosteiro. No entanto, uma perícia financeira ordenada pelo próprio abade geral concluiu que não havia nenhuma irregularidade nas contas. “O perito deu os parabéns pela transparência das contas dos nossos mosteiros”, afirmou irmã Aline.
Ela também explicou que a venda de uvas para a produção de prosecco, prática citada como motivo de crítica, era uma forma legítima de garantir autonomia econômica, comum em comunidades religiosas.
Além da ação por calúnia e difamação, que tramita na Justiça penal de Treviso, irmã Aline também recorre ao Tribunal Eclesiástico da Santa Sé para questionar a legitimidade de seu afastamento. A religiosa pretende ainda processar o abade geral por assédio sexual e moral, embora tenha preferido não dar detalhes públicos sobre o episódio.
Oito dias após a morte do papa Francisco, em abril, irmã Aline deixou o mosteiro. No dia seguinte, cinco freiras saíram da clausura para acompanhá-la. “Nós nos sentimos tratadas como se fôssemos mafiosas, vigiadas como num campo de concentração”, declarou a freira Maria Stella.
Irmã Aline afirma que continuará lutando para limpar seu nome. “Lutar pela verdade é algo cristão. Pretendo ir adiante até provar que essas acusações não são verdadeiras”, declarou ao Fantástico.
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