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Posição do Irã contra a existência de Israel vira impasse no Brics

RICARDO DELLA COLETTA E PATRÍCIA CAMPOS MELLO
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A posição do Irã de não reconhecer do Estado de Israel se transformou num impasse no Brics, grupo de países que neste ano é presidido pelo governo Lula (PT) e cujos líderes se encontram no final de semana no Rio de Janeiro.

Teerã não reconhece o direito de existência de Israel e nem sequer se refere ao Estado judeu pelo nome -usa expressões como “regime sionista”. Além de ser o único país do Brics com esse entendimento, o Irã tem opiniões estabelecidas que se chocam com algumas manifestações do Brics há anos consolidadas.

Um dos principais exemplos é a defesa, amplamente aceita no bloco, de que o conflito no Oriente Médio precisa ser resolvido com base numa solução que envolva dois Estados, um israelense e outro palestino.

Desde a revolução islâmica de 1979, o Irã entende que deveria existir apenas um Estado palestino. Trata-se de um princípio estabelecido pelo fundador da república islâmica, o aiatolá Ruhollah Khomeini, e preservado por seus sucessores.

Dessa forma, a delegação iraniana no Brics tem se oposto a menções na declaração de líderes, atualmente em negociação, à solução de dois Estados no Oriente Médio. Na visão iraniana, isso poderia ser visto como um reconhecimento implícito do direito de existência de Israel.

Os negociadores tentam encontrar uma fórmula que possa ser aceita por Teerã, sem significar um recuo em relação à opinião dos demais membros.

Em 2024, durante a cúpula de Kazan, na Rússia, os líderes do Brics reafirmaram apoio à incorporação da Palestina como membro das Nações Unidas, “no contexto do compromisso inabalável com a visão da solução de dois Estados com base no direito internacional”.

Uma referência semelhante foi incluída na declaração do ano anterior. “Apelamos à comunidade internacional para que apoie negociações diretas com base no direito internacional, incluindo as resoluções relevantes do Conselho de Segurança da ONU e da Assembleia-Geral e a Iniciativa de Paz Árabe, rumo a uma solução de dois Estados, conduzindo ao estabelecimento de um Estado da Palestina soberano, independente e viável.”

De acordo com pessoas cientes das tratativas e ouvidas pela Folha, encontrar formas de acomodar a posição iraniana contra o reconhecimento de Israel e contra a solução de dois Estados num fórum em que todos os demais têm opinião contrária tem sido um dos principais desafios das negociações.

Em termos gerais, o Irã tem sido contrário até à menção da palavra Israel. Para contornar essa resistência, uma das possibilidades é que a declaração use termos como regime israelense para se referir ao Estado judeu.

Além de patrocinar grupos como o Hamas e o Hezbollah, que defendem a destruição de Israel, o Irã se envolveu em um conflito direto com Tel Aviv no mês passado. No dia 13 de junho, as forças israelenses fizeram um ataque sem precedentes contra instalações nucleares iranianas sob a justificativa de frear o possível desenvolvimento de uma bomba atômica. Teerã retaliou, e os dois países trocaram ataques durante 12 dias, nos quais houve ainda uma intervenção direta dos EUA -que depois viriam a mediar, de maneira nebulosa, um cessar-fogo.

O Irã foi convidado a se integrar ao Brics em 2023, numa reunião em Joanesburgo (África do Sul), como parte de uma expansão do bloco fortemente patrocinada por China e Rússia.

Hoje, além do Brasil, são membros plenos do Brics Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Irã e Arábia Saudita.

O Brics tem ainda uma lista de nações parceiras. São elas: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.

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