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Por que os protestos no Nepal não são a Primavera Árabe 2.0

Tão longe, tão perto

Existem paralelos entre a Primavera Árabe e as manifestações no Nepal. Ambos os movimentos nasceram da frustração acumulada em sociedades marcadas pela estagnação econômica, nas quais a juventude não enxergava perspectivas de futuro diante de um cenário de corrupção endêmica, elites políticas isoladas e instituições frágeis. Em ambos os casos, as redes sociais foram o canal de encontro, a praça pública improvisada onde descontentamentos individuais se transformaram em ação coletiva.

Mas há diferenças cruciais. Enquanto a Primavera Árabe enfrentava regimes autoritários consolidados, o Nepal é uma democracia jovem e marcada por sucessivas crises de governabilidade. Isso fez com que o custo da repressão fosse mais alto para o governo: ao contabilizar dezenas de mortos em poucos dias, o primeiro-ministro acabou renunciando. A repressão no Cairo ou em Túnis buscava garantir a sobrevivência de regimes vitalícios; em Katmandu, ela acelerou a queda de um governo já fragilizado. Outro contraste está na escala: a Primavera Árabe se espalhou como um rastilho de pólvora pela região, derrubando líderes e inspirando movimentos do Magrebe ao Golfo. O Nepal, por ora, é um caso isolado, embora observado com atenção por seus vizinhos.

E talvez a maior diferença resida na identidade do movimento. Em 2011, falava-se no “povo” contra os regimes. A narrativa era ampla, popular, sem fronteiras geracionais tão marcadas. Em 2025, pelo menos no início, os protestos foram marcados pelo protagonismo da Geração Z.

Seria fácil dizer que os protestos no Nepal são um conflito geracional, de jovens libertários contra velhos políticos conservadores, que não entendem como funciona a tecnologia. Mas existe uma novidade na movimentação que varreu o Nepal: não estamos mais em 2011 e um dos gatilhos para a revolta é justamente o exibicionismo dos políticos (e principalmente dos seus filhos) nas redes sociais. É como se a cultura de ostentação e de influência nas redes tivesse batido contra uma parede e encontrado uma audiência que não estava mais disposta a curtir e compartilhar a boa vida alheia.

Das redes para as ruas, de novo

Um dos aspectos mais interessantes dos protestos no Nepal é a forma como símbolos da cultura pop e da Internet saíram das telas e apareceram nas ruas. Essa transposição não é inédita. Na invasão do Capitólio dos Estados Unidos, em 2021, entre bandeiras de Trump e slogans tradicionais estava também o estandarte verde do chamado “Kekistão”, um meme da internet transformado em símbolo político. O que parecia piada de fórum online virou marca visual de um movimento extremista com efeitos reais sobre a democracia norte-americana.



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