O chanceler do Peru, Elmer Schialer, afirmou neste domingo (13) que nenhum país pode acessar o Oceano Pacífico “sem a participação do Peru”. A declaração ocorre após o anúncio de um acordo entre Brasil e China para estudar a viabilidade de uma ferrovia ligando o Atlântico ao Pacífico.
“Como é possível pensar em acessar o Pacífico sem o Peru? Seria, no mínimo, insensato. Não se pode esconder nada do nosso país em um projeto dessa magnitude”, afirmou Schialer, em nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores peruano.
Na última segunda-feira (7), os governos do Brasil e da China assinaram um memorando de entendimento para dar início aos estudos sobre a construção de uma ferrovia interoceânica, com ponto de partida na Bahia e destino final no porto peruano de Chancay, próximo à capital Lima. A linha cruzaria a Amazônia brasileira e peruana.
Schialer ressaltou que o documento é apenas um memorando não vinculativo, restrito ao território brasileiro. Segundo ele, não há, até o momento, qualquer negociação formal com o Peru, e críticas internas ao projeto estariam “alarmando desnecessariamente a opinião pública”.
“Esse é um memorando que prevê cinco anos de estudos e análise de alternativas. Não é um tratado definitivo, tampouco envolve o território peruano diretamente neste momento”, disse o ministro, minimizando a reação de parlamentares e analistas locais.
Segundo ele, propostas para conectar o Atlântico ao Pacífico por meio de infraestrutura de transporte já existem há anos. O Peru, lembrou Schialer, participa da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), que viabilizou três eixos rodoviários no país.
“Essa é mais uma oportunidade para retomar uma ideia antiga, agora com novos contextos”, explicou. Um desses fatores é o novo porto de Chancay, em construção, que permitirá o transporte de cargas até a China em pouco mais de 20 dias.
Schialer ponderou, no entanto, que o projeto enfrenta obstáculos ambientais, de engenharia, financeiros e regulatórios. “Esses desafios precisam ser enfrentados com total transparência, sem margem para corrupção”, afirmou.
O chanceler também criticou a forma como o debate tem sido conduzido dentro do próprio Peru. “Negócios internacionais exigem serenidade, base em informações corretas e diálogo institucional. Avaliações precipitadas só prejudicam o processo”, disse.
Na quarta-feira (9), o primeiro-ministro peruano, Gustavo Adrianzén, já havia declarado que o país “não autorizou nem pretende investir” na ferrovia. Ele afirmou que, caso o Brasil formalize a proposta com investimento privado, caberá ao Ministério dos Transportes e Comunicações analisar a viabilidade.
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