Economia

Nova lei do licenciamento ambiental deve parar no STF

Ainda dependendo da aprovação pela Câmara dos Deputados e da sanção ou veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o projeto da nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental já é tratado por membros do Supremo Tribunal Federal (STF) como assunto para análise da corte. 

Decano do Supremo, Gilmar Mendes, disse no fim de maio que o tema “certamente” será judicializado. “Eu sei que a relatora desse projeto no Senado foi a senadora Tereza Cristina [PP-MS], uma experiente parlamentar, foi ministra da Agricultura, e está buscando a racionalização. Vamos aguardar os desdobramentos”, disse a jornalistas durante o Seminário Internacional Multidisciplinar do Agronegócio, em Mato Grosso.

“Certamente isso vai ser depois judicializado, como sói acontecer, mas o importante é que nós não percamos de vista a necessidade de proteção ao meio ambiente”, afirmou. No evento, o ministro foi palestrante do painel “Mudanças Climáticas e Responsabilidade Ambiental: O Papel do Direito”. 

Outro ministro, Flavio Dino, foi além. Em entrevista à revista Piauí no início do mês, ele chamou o projeto de lei de “PL da Devastação”, fazendo coro a ambientalistas e antecipando publicamente sua opinião sobre o texto ao adotar o apelido pejorativo.

“O PL da Devastação será contestado no Supremo tão certo quanto o Botafogo foi campeão da Libertadores no ano passado”, disse Dino, que é declaradamente botafoguense. “O governo atual até tenta evitar batalhas no Supremo. Mas, de modo geral, esses assuntos mais graves acabam chegando [ao Supremo] por meio de uma ação de um partido político.” 

A proposta é considerada um avanço para o agronegócio por simplificar e desburocratizar regras para atividades que utilizam recursos naturais. Por outro lado, é rechaçada por ambientalistas, que veem no texto uma flexibilização excessiva de normas que hoje impedem obras e empreendimentos em razão de riscos ao meio ambiente.

VEJA TAMBÉM:

Discutido desde 2004, o projeto de lei já foi aprovado pelos deputados e passou com facilidade no Senado, com placar de 54 votos favoráveis e 13 contrários. Por ter sofrido modificações, a matéria precisa de nova análise pela Câmara, onde o deputado Zé Vitor (PL-MG) foi designado relator.

Conforme o texto, atividades de cultivo agrícola e pecuária extensiva, por serem consideradas de menor impacto, deixarão de ser sujeitas a licenciamento ambiental, passando a ser obrigatórias apenas autorização para supressão de vegetação nativa e outorga dos direitos de uso de recursos hídricos, entre outras exigências legais específicas do tipo. 

Se sancionado com a redação aprovada no Senado, o novo marco legal também deve beneficiar o agronegócio ao destravar obras importantes de infraestrutura para o escoamento da produção, como rodovias e ferrovias.

Serviços e obras de manutenção e melhoria de infraestrutura em instalações ou faixas de domínio, inclusive rodovias já pavimentadas, também passam a ser consideradas atividades de baixo impacto, sendo, portanto, dispensados os procedimentos de novo licenciamento. 

A proposta de uma legislação para o licenciamento ambiental é apoiada pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, mas enfrenta críticas do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), liderado por Marina Silva.

“Quando transformado em lei, vai dar ao Brasil uma grande capacidade, principalmente para licenciar obras de infraestrutura, o que vai garantir ao Brasil um crescimento sustentável. Porque crescimento econômico tem que estar aliado a crescimento em investimentos em infraestrutura”, disse Fávaro após a aprovação do PL no Senado.

O MMA, enquanto isso, divulgou nota em que questiona a constitucionalidade da proposta. Segundo a pasta, o PL “afronta diretamente a Constituição Federal, que no artigo 225 garante aos cidadãos brasileiros o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, com exigência de estudo prévio de impacto ambiental para instalação de qualquer obra ou atividade que possa causar prejuízos ambientais”.

Fonte

Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos relacionados

Economia

Câmara quer acelerar projeto que impõe limites

A Câmara dos Deputados quer agilizar a tramitação de um projeto de...

Economia

Grupo do agronegócio vai procurar petróleo em Mato Grosso

Com um histórico de mais de um século no agronegócio, o grupo...

Economia

Relator de ação que revoga decisão sobre IOF pode mudar no STF

O Supremo Tribunal Federal deve enfrentar um novo capítulo na discussão sobre...

Economia

entenda o impacto na conta de luz

A conta de luz dos brasileiros permanecerá mais cara em julho. A...