Os Estados Unidos deslocaram nesta semana navios de guerra, aviões, pelo menos um submarino e cerca de 4 mil militares para o sul do mar do Caribe, próximo à costa da Venezuela. A operação, segundo informações das agências Reuters e Associated Press, foi anunciada oficialmente como parte do combate ao tráfico internacional de drogas, mas analistas avaliam que a mobilização militar também representa uma mensagem direta ao governo de Nicolás Maduro.
De acordo com o cientista político Carlos Gustavo Poggio, professor do Berea College, nos EUA, o arsenal enviado não condiz com a justificativa apresentada. “Mísseis não são para combater cartéis de drogas. Não faz sentido lançar um Tomahawk em um cartel”, afirmou ao g1.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou na terça-feira (19) que Maduro “não é um presidente legítimo”, classificando-o como “fugitivo” e “chefe de cartel narcoterrorista”. Leavitt acrescentou que os EUA estão dispostos a usar “toda a força” contra o regime venezuelano. A acusação de “fugitivo” faz referência à recompensa de US$ 50 milhões (cerca de R$ 275 milhões) oferecida pelo governo americano por informações que levem à prisão ou condenação do presidente venezuelano.
O Departamento de Justiça dos EUA acusa Maduro de envolvimento em conspiração com o narcoterrorismo, tráfico de drogas e uso de armas em apoio a crimes relacionados ao tráfico. Washington também aponta o líder venezuelano como chefe do chamado Cartel de los Soles, grupo classificado recentemente como organização terrorista internacional.
Em resposta, Maduro anunciou a mobilização de 4,5 milhões de milicianos para enfrentar o que chamou de “ameaça” dos Estados Unidos.
Segundo Poggio, a força enviada pelos EUA é “extremamente eficaz para atacar ou invadir um país”. A operação inclui três destróieres equipados com o sistema de combate Aegis, três navios de desembarque anfíbio, aviões espiões P-8 Poseidon e pelo menos um submarino. “Cartéis não têm navios de guerra nem aviões. Geralmente utilizam rotas terrestres ou lanchas rápidas. Esse tipo de efetivo é voltado para operações militares de larga escala”, destacou o especialista.
O professor afirmou ainda que, caso os EUA avancem com uma invasão, seria um marco histórico: “Seria a primeira invasão direta dos Estados Unidos em um país da América do Sul, vizinho do Brasil.”
A iniciativa ocorre em um momento em que o governo Trump tem reforçado a militarização no enfrentamento ao crime, inclusive dentro dos EUA, com o uso da Guarda Nacional em protestos.
Nos últimos dias, países como Equador, Paraguai e Guiana seguiram a posição americana de classificar o Cartel de los Soles como organização terrorista. Segundo Poggio, essa movimentação tem motivações políticas e estratégicas, especialmente pela disputa territorial entre Guiana e Venezuela pela região de Essequibo.
Apesar da retórica de Caracas, especialistas apontam que as Forças Armadas venezuelanas enfrentam sérias limitações. Relatório do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos (IISS) afirma que sanções internacionais, isolamento e crise econômica reduziram drasticamente a capacidade militar do país. “A Força Aérea e a Marinha sofrem problemas de prontidão e operam com equipamentos defasados, mantidos por reparos e modernizações improvisadas”, aponta o documento.
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