RICARDO DELLA COLETTA, PATRÍCIA CAMPOS MELLO E NELSON DE SÁ
BRASÍLIA, DF, SÃO PAULO, SP E PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu sinalizações de Pequim de que o líder Xi Jinping avalia não viajar ao Rio de Janeiro para a reunião do Brics, o que pode afetar o nível de representação da cúpula presidida pelo brasileiro nos dias 6 e 7 de julho.
Ainda não há informações públicas sobre quem lideraria a delegação chinesa caso Xi de fato não viaje.
Uma das possibilidades é que o grupo seja chefiado por Li Qiang, primeiro-ministro do país, de acordo com Celso Amorim, assessor especial do Palácio do Planalto. No entanto, diz Amorim, “obviamente gostaríamos muito de que Xi viesse, porque já é uma relação pessoal do Lula com ele, e isso também conta, não é só o cargo”.
Pequim não confirma nem descarta a presença de Xi. Questionado pela reportagem, o porta-voz do Ministério do Exterior chinês, Guo Jiakun, respondeu apenas que serão dadas “informações no momento apropriado”. A China costuma confirmar as viagens de seu dirigente a poucos dias do embarque.
Guo declarou que “a China dá apoio à Presidência brasileira do Brics e, juntamente, promoverá maior cooperação” no grupo. Também falou que os dois países, “num mundo volátil e turbulento, mantêm determinação estratégica e contribuem juntos para a paz, a estabilidade e o desenvolvimento globais”.
Além da eventual falta de Xi, é dada como certa a ausência do presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Alvo de um mandado do TPI (Tribunal Penal Internacional), sob acusação de crimes de guerra na Ucrânia, Putin tem evitado realizar viagens internacionais. Ele não participou da reunião do Brics de 2023, em Joanesburgo (África do Sul), e das cúpulas do G20 em Nova Déli (Índia), no mesmo ano, e no Rio, em 2024.
Hoje são membros plenos da aliança, além do Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.
A Arábia Saudita, convidada em 2023, nunca oficializou seu ingresso, mas tem escalado representantes para as reuniões.
Caso se confirme a ausência de Xi, os únicos membros fundadores do Brics representados por seus líderes deverão ser o próprio Lula e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi -que também será recebido em visita de Estado em Brasília, após a cúpula.
O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, também deve comparecer à reunião do Brics. O país ingressou no bloco dois anos após a sua fundação.
Lula se empenhou pessoalmente em tentar convencer Xi a viajar ao Rio. Um dos objetivos do presidente ao comparecer ao fórum China-Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) em maio, em Pequim, foi reforçar o convite ao chinês. Em entrevista à imprensa no encerramento da viagem, Lula disse que Xi participaria do encontro no Rio.
“Uma outra coisa, para mim, extremamente importante, é a minha visita à China. É a segunda visita que eu faço nesse segundo mandato como chefe de Estado. E possivelmente será a segunda também do presidente Xi Jinping nesses últimos dois anos ao Brasil, porque ele vai participar dos Brics”, disse Lula na ocasião.
A relação bilateral, porém, tem vivido alguns atritos. Em novembro passado, a visita do líder chinês a Brasília, por ocasião da cúpula do G20, foi frustrante para Pequim, diante da rejeição do governo brasileiro não somente à Iniciativa Cinturão e Rota, mas até a um casal de pandas que havia sido oferecido durante as negociações.
Desta vez, após o anúncio chinês da isenção de visto para os brasileiros que visitarem o país a negócios ou turismo por até 30 dias, o Brasil não pretende conceder reciprocidade -apesar da expectativa de salto na demanda por visto dos chineses, já no limite da estrutura diplomática brasileira.
Questionado se o Brasil pretende adotar a isenção de visto para chineses, o embaixador em Pequim, Marcos Galvão, respondeu que, “tal como ocorre com outros países, a decisão chinesa é unilateral e não envolve reciprocidade”.
Além dos membros plenos, o Brics tem ainda uma lista de nações parceiras. São elas: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.
Há também um grupo de países que devem participar da cúpula no Rio como convidados da presidência. Estão nessa lista os líderes de Chile, Colômbia, Uruguai, México e Turquia.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, já disse que enviará um auxiliar para representá-la no encontro.
Outra dúvida é o presidente Recep Tayyip Erdogan, da Turquia. O país havia solicitado entrada como integrante pleno do Brics, mas acabou frustrado por ter recebido um convite para um status inferior, de parceiro.
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