O comentário de Pyongyang, divulgado pela agência de notícias oficial KCNA, foi motivado por declarações de um integrante da equipe da primeira-ministra do Japão, a nacionalista Sanae Takaichi, que contradizem a doutrina oficial de renúncia às armas nucleares.
“Acho que deveríamos possuir armas nucleares”, afirmou o membro do gabinete de Takaichi em declarações divulgadas na quinta-feira pela agência japonesa Kyodo. Embora não tenha sido identificado, ele foi descrito como alguém envolvido na formulação da política de segurança.
“No fim das contas, só podemos contar conosco mesmos”, acrescentou o integrante do governo japonês, aliado dos Estados Unidos.
As declarações divulgadas pela Kyodo foram criticadas pela Coreia do Norte, que considerou que elas revelam a ambição do Japão de possuir armas nucleares.
Essa ambição “deve ser impedida a todo custo, pois provocará uma grande catástrofe para a humanidade”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte em comunicado citado pela agência France-Presse (AFP).
“Não se trata de um lapso nem de uma afirmação impensada, mas reflete claramente a ambição de longa data do Japão pela nuclearização”, acrescentou.
Para Pyongyang, caso o Japão passe a dispor de armas nucleares, “os países asiáticos sofreriam uma terrível catástrofe nuclear e a humanidade enfrentaria um desastre de grandes proporções”.
O comunicado não menciona o próprio programa nuclear da Coreia do Norte, que realizou diversos testes de bombas atômicas em violação às resoluções da ONU.
Pyongyang afirma que seu arsenal nuclear é uma dissuasão necessária diante do que considera uma ameaça militar dos Estados Unidos e de seus aliados, como o Japão.
O Japão é o único país que sofreu ataques nucleares, quando os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, em 1945.
Embora o integrante do gabinete da primeira-ministra japonesa tenha afirmado que expressava uma opinião pessoal e que não havia discutido o tema com Takaichi, as declarações foram duramente criticadas pela oposição.
O Partido Democrático Constitucional (PDC), maior força de oposição, exigiu na sexta-feira a sua demissão.
“É extremamente grave que alguém com esse tipo de opinião esteja próximo da primeira-ministra”, afirmou o líder do PDC, Yoshihiko Noda, citado pela agência espanhola EFE.
Diante da polêmica, o governo japonês reafirmou que a postura antinuclear do país permanece inalterada.
O ministro das Relações Exteriores, Toshimitsu Motegi, declarou na sexta-feira que a missão de Tóquio é “liderar os esforços da comunidade internacional para alcançar um mundo livre de armas nucleares”.
O porta-voz do governo, Minoru Kihara, também garantiu que o Japão mantém os conhecidos “três princípios não nucleares”: não produzir, não possuir e não permitir armas nucleares em seu território.
Esses princípios foram estabelecidos em 1967 pelo então primeiro-ministro Eisaku Sato e posteriormente ratificados pelo Parlamento, segundo a EFE.
No entanto, Kihara havia admitido em novembro que o Partido Liberal Democrático (PLD), no poder, pretende debater em 2026 uma possível revisão dos princípios nucleares, devido à rápida mudança no ambiente de segurança.
Há vários anos, o Japão percebe um cenário de segurança cada vez mais complexo, que considera ter se agravado com a aproximação entre a Rússia e a Coreia do Norte, apontada como a principal ameaça regional.
Recentemente, Takaichi comprometeu-se a antecipar a meta de elevar os gastos com defesa para 2% do Produto Interno Bruto (PIB).
A polêmica também coincide com o agravamento das relações entre Tóquio e Pequim, após Takaichi afirmar, em novembro, que um eventual ataque chinês contra Taiwan poderia justificar uma intervenção das Forças de Autodefesa do Japão.
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