© J.L. Bongers / C. Stanish / Universidade de Sydney
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Um dos sítios arqueológicos mais enigmáticos dos Andes pode ter sido um antigo mercado a céu aberto. É o que sugere uma nova pesquisa da Universidade de Sydney sobre o Monte Sierpe, conhecido como “faixa de buracos” e localizado no Vale de Pisco, no sul do Peru. O local abriga mais de 5.000 cavidades escavadas de forma precisa nas encostas andinas.
Pesquisadores tentam resolver um mistério de décadas. O Monte Sierpe intriga arqueólogos desde os anos 1930, quando suas primeiras imagens aéreas foram publicadas pela revista National Geographic. Apesar de inúmeras teorias -de funções agrícolas a propósitos defensivos-, a utilidade original continua envolta em mistério.
Novas evidências apontam para trocas comerciais. Segundo o arqueólogo digital Jacob Bongers, da Universidade de Sydney e do Australian Museum Research Institute, a equipe encontrou indícios que reforçam a hipótese de que o local funcionava como um centro de trocas. A pesquisa foi publicada nesta segunda-feira (10) na revista científica Antiquity.
“Talvez este fosse um mercado pré-incaico, como uma feira. Sabemos que a população pré-hispânica aqui era de cerca de 100 mil pessoas. Talvez comerciantes nômades, agricultores e pescadores se reunissem para trocar produtos como milho e algodão”, disse Jacob Bongers.
Tecnologia de drones revelou padrões numéricos. Os pesquisadores mapearam o sítio com drones e identificaram padrões na disposição dos buracos. Para surpresa da equipe, o arranjo se assemelha ao de um khipu (antigo sistema inca de contabilidade feito com cordas e nós) encontrado no mesmo vale. “Esta é uma descoberta extraordinária que amplia nossa compreensão sobre as origens e a diversidade das práticas indígenas de contabilidade”, disse Bongers.
Análises de solo reforçam a hipótese comercial. A equipe também analisou amostras de sedimentos das cavidades e identificou grãos de pólen de milho, um dos principais cultivos dos Andes, e vestígios de junco, planta usada há milênios na confecção de cestos. Segundo os cientistas, isso indica que plantas eram depositadas nos buracos, possivelmente em cestos ou feixes usados para transporte.
Localização estratégica reforça a teoria. O Monte Sierpe está situado entre dois antigos centros administrativos incas e perto da interseção de uma rede de estradas pré-hispânicas. A área fica em uma zona ecológica de transição entre os Andes e a planície costeira, ponto ideal para encontros e trocas entre comunidades do interior e do litoral.
Sítio pode ter evoluído sob domínio inca. Combinando as descobertas botânicas e aéreas, os pesquisadores sugerem que o Monte Sierpe foi inicialmente construído pelo reino Chincha, anterior ao império inca, para trocas reguladas e depois transformado em um sistema de contabilidade em larga escala pelos incas. “Vejo esses buracos como uma tecnologia social que aproximava pessoas e, mais tarde, se tornou um sistema de registro”, afirmou Bongers.











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