Atuando em consultórios e clínicas há sete anos, o psiquiatra Vitor Hugo Stangler diz que só teve contato uma vez com uma paciente que tinha um bebê reborn, justamente para tratamento de Alzheimer. “A sensação que eu tenho é que é tem sido muito amplificado, pois é nichado, o uso é pequeno. Faz parte de um fenômeno das redes de transformar aquilo que é pequeno, mas chama muito atenção, em uma coisa que seria real e complexa, como se estivessem bebês reborns por todos os lados nas praças, nos shopping centers. Eu vou no shopping center regularmente e nunca vi um bebê reborn”, conta o psiquiatra.
Segundo Stangler, o caso da agressão a uma criança em Belo Horizonte tem algo de “amoral”, mas também pode apontar para uma intolerância que tem sido presente no meio social com a difusão das redes sociais. “Hoje em dia as pessoas estão muito mais afloradas. É uma sociedade dos extremos, em que é oito ou oitenta, extrema direita ou esquerda, gosta ou odeia. Não existe meio-termo mais”, explica.
O acesso ao celular, com todos os estímulos possíveis no alcance dos dedos, diz o psiquiatra, afeta o sistema límbico, que é responsável pela sensação de prazer, desregulando a produção de dopamina, que é responsável pela sensação de recompensa. Segundo ele, males como o déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno explosivo intermitente e até esquizofrenia estão diretamente ligadas a distúrbios relacionados à produção dessa substância.
“Talvez exista algo de cunho ético e moral para uma pessoa agredir um bebê real achando que é reborn. Mas também há algo de ser intolerante, não aceitar as diferenças, o que aponta também para essa questão”, acrescenta Stangler.
“O mundo não está cheio de bebê reborn. São bolhas. A gente amplifica porque dá visualização, gera like, gera curtida e gera estranhamento”, complementa. “Parece que estamos vivendo um fenômeno atrás do outro. As coisas são fugazes, daqui a três meses, provavelmente não vamos estar falando mais disso, e sim de outro assunto”, conclui.
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