“Acredito que isso seja algo contínuo, e estamos trabalhando com os Estados Unidos”, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Nigéria, Yusuf Tuggar, à Channels Television na sexta-feira. “É uma nova fase de um conflito antigo”, acrescentou.
A Nigéria está coordenando os esforços com os EUA, e novos ataques das forças armadas norte-americanas são esperados, segundo autoridades nigerianas de alto escalão que pediram anonimato.
Os Estados Unidos não se pronunciaram publicamente sobre possíveis novos ataques, mas o chefe do Pentágono, Pete Hegseth, incluiu a expressão “mais por vir” em uma publicação na rede social X, na qual anunciou o ataque realizado no dia de Natal.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por sua vez, republicou o anúncio do ataque na sexta-feira, sem fazer comentários adicionais.
Trump voltou à Casa Branca com a promessa aos eleitores norte-americanos de retirar os Estados Unidos de conflitos ao redor do mundo, mas dedicou grande parte do primeiro ano de seu segundo mandato à política externa — nem sempre pelo caminho da diplomacia.
O presidente norte-americano recorreu ao uso da força em diversas ocasiões, desde ataques contra supostos terroristas na Somália, no Iêmen e na Síria, até uma ofensiva em larga escala contra instalações nucleares do Irã. Ele encerrou o ano com o envolvimento militar dos EUA na Venezuela, por meio de um intenso bloqueio naval e aéreo, mobilizando cerca de 15 mil tropas e o maior porta-aviões do mundo em operações que, até o momento, resultaram na apreensão de petroleiros, ataques a embarcações e execuções de supostos traficantes de drogas.
Nos últimos meses, o presidente criticou a Nigéria por ataques contra cristãos no país e, no dia de Natal, ao anunciar a intervenção, escreveu que “já havia avisado esses terroristas de que, se não colocassem fim ao massacre de cristãos, pagariam caro — e nesta noite pagaram”, publicou em sua rede social, a Truth Social.
Na sexta-feira, Trump manteve o mesmo tom e argumento em declarações ao Politico, explicando que o ataque estava originalmente previsto para quarta-feira, mas que ele próprio determinou o adiamento por um dia por razões simbólicas.
“Eles iam fazer isso [o ataque] antes. E eu disse: ‘Não, vamos dar um presente de Natal’. (…) Eles não estavam esperando, mas nós os atacamos com força. Todos os acampamentos foram dizimados”, afirmou.
As autoridades nigerianas rejeitaram veementemente a caracterização feita pelo ocupante da Casa Branca, interpretada como uma espécie de nova cruzada, afirmando que a ameaça vem de grupos terroristas e faz parte de um cenário de instabilidade mais amplo naquela região da África, marcada por grande complexidade política.
“Rótulos simplistas não resolvem ameaças complexas”, escreveu Tuggar na sexta-feira. “O terrorismo na Nigéria não é um conflito religioso; é uma ameaça à segurança regional”, acrescentou.
O chefe da diplomacia nigeriana afirmou que os ataques das forças norte-americanas se basearam em informações de inteligência fornecidas pelo governo em Abuja e ocorreram após uma conversa com o secretário de Estado, Marco Rubio.
Rubio falou com seu homólogo nigeriano várias vezes na quinta-feira, antes dos ataques, segundo a Bloomberg, que citou uma fonte norte-americana familiarizada com o assunto.
Os Estados Unidos não divulgaram detalhes sobre as operações — além de um vídeo mostrando o lançamento de um míssil a partir de um navio de guerra, publicado pelo Pentágono nas redes sociais — nem sobre os danos causados.
O ataque atingiu a região de Sokoto, no noroeste da Nigéria, uma área onde um bispo católico local afirmou, em outubro, que os cristãos não estavam sofrendo perseguição.
O Ministério da Defesa da Nigéria informou que os alvos estavam ligados ao grupo Estado Islâmico, e o ministro da Informação do país, Mohammed Idris, afirmou na rede social X que os ataques partiram de navios no Golfo da Guiné e utilizaram drones MQ-9 Reaper. Segundo ele, foram disparadas 16 munições guiadas por GPS, que neutralizaram integrantes do Estado Islâmico que tentavam entrar no país pelo corredor do Sahel.
“Pelo que sabemos até agora, esses ataques são, em grande parte, um sinal de algo maior”, disse à Bloomberg Confidence MacHarry, analista de segurança da SB Morgen Intelligence, em Lagos. “É muito provável que ataques futuros causem ainda mais danos.”
A Nigéria, país com cerca de 230 milhões de habitantes — o mais populoso da África —, é dividida de forma quase igual entre populações muçulmanas e cristãs e enfrenta décadas de violência.
“Parece que chegamos a um ponto em que as autoridades nigerianas finalmente perceberam que não conseguem lidar com isso sozinhas, que precisam de ajuda, e o governo dos Estados Unidos parece mais do que disposto a oferecê-la”, avaliou à agência Ebenezer Obadare, pesquisador sênior de estudos africanos do Conselho de Relações Exteriores, em Washington.
Em novembro, Trump ameaçou uma ação militar caso os ataques continuassem. Pouco depois, terroristas sequestraram mais de 200 crianças de uma escola católica, que foram libertadas no início desta semana.
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