Da foto ao discurso político em minutos
Como você já percebeu, Laura Bolsonaro não fez quaisquer dessas publicações, nem existem nas redes evidências de que as criações tenham sido autorizadas. Com o avanço das ferramentas de IA, é cada vez mais fácil gerar vídeos com falas a partir de uma simples fotografia. Softwares de clonagem de voz e de animação facial permitem, em minutos, criar um vídeo em que qualquer pessoa parece falar qualquer coisa — com resultados que podem até ser convincentes.
Embora muitas montagens sejam detectáveis por um olhar mais treinado, parte do público, especialmente com menor familiaridade com tecnologias digitais, pode não perceber a manipulação. Outro grupo pode simplesmente nem ligar e compartilhar a publicação porque se identifica com o conteúdo. Foi-se o tempo em que os debates sobre desinformação miravam apenas os inocentes do Leblon.
Diversas plataformas de redes sociais possuem em seus termos de uso a proibição de que sejam criados ou publicados conteúdos que manipulem imagens de terceiros, sobretudo de crianças e de adolescentes. E aqui reside uma questão sobre moderação de conteúdo. Hoje, qualquer rede social que começar a derrubar os vídeos da Laurinha digital —seja por uso não autorizado de IA ou manipulação de imagem— vai acabar sendo acusada de censura política. Imagina a temperatura desses debates em 2026.
Campanha sem Bolsonaro real, mas com Bolsonaro digital
O contexto político que começa a se formar para as eleições de 2026 está andando lado a lado com a evolução das ferramentas de IA. Como lembra a antropóloga Isabela Kalil, a perspectiva de Jair Bolsonaro estar preso em 2026, e proibido de usar suas redes sociais, pode impulsionar a campanha (seja a dele, seja de aliados) a recorrer massivamente a avatares e conteúdos sintéticos para espalhar as suas mensagens. Se não tem o Bolsonaro real, vira-se com o Bolsonaro digital.
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