BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O ex-presidente colombiano Álvaro Uribe foi declarado culpado nesta segunda-feira (28) por suborno de testemunhas. O julgamento começou em maio de 2024, e o político nega ter pressionado ou subornado paramilitares para alterar seus testemunhos.
O processo, muito politizado, contou com mais de 90 testemunhas, incluindo Juan Guillermo Monsalve, um ex-paramilitar que afirma que Uribe e seu irmão participaram da criação de esquadrões de extrema direita nos anos 1990, que operavam com a ajuda do Exército contra os guerrilheiros.
A origem do caso remonta a 2012, quando Uribe processou o senador Iván Cepeda, afirmando que este usou testemunhas falsas para ligá-lo a paramilitares. Entretanto, em 2018, a situação se inverteu e Uribe tornou-se o alvo das investigações por suposto suborno a paramilitares para se defender. Ele enfrenta a possibilidade de até 12 anos de prisão.
Uribe chegou a receber ordem de prisão domiciliar em 2020, quando a máxima instância da Justiça colombiana avaliou que sua liberdade poderia atrapalhar o curso da investigação.
À época senador, ele renunciou ao cargo em uma estratégia que transferiu o caso para a Justiça comum, que suspendeu a ordem de prisão e reiniciou o processo.
Uribe, que sempre defendeu sua inocência, diz que as acusações são uma “vingança da esquerda” e de antigos aliados que se tornaram inimigos. Ele afirmou que está sendo alvo de uma perseguição política e que sua condenação poderá impactar negativamente a direita conservadora nas eleições presidenciais de 2026.
Atualmente, Uribe é o líder do Centro Democrático, o principal partido opositor ao presidente Gustavo Petro. Ele acusou o presidente de tentar influenciar a Justiça e sugeriu que, se for condenado, Cepeda será o candidato da esquerda nas próximas eleições. Petro, por outro lado, pediu imparcialidade aos juízes.
Apesar de ainda ser popular, a imagem de Uribe foi abalada pelos processos judiciais, com ex-paramilitares afirmando que ele tinha conhecimento sobre massacres que ocorreram no país. O ex-presidente é uma figura polarizadora, admirada por sua luta contra a insurgência, mas criticada por supostos abusos de direitos humanos.
Ele fortaleceu as forças armadas contra as FARC, grupo guerrilheiro que estava em ascensão antes de sua presidência (2002-2010).
Monsalve declarou que Uribe e seu irmão permitiram a estadia de paramilitares em uma fazenda deles. O pai do ex-presidente foi morto na mesma propriedade em 1983, em um crime que, segundo Uribe, foi cometido por guerrilheiros. As Farc negam as acusações.
As acusações contra Uribe começaram formalmente em 2012 e, após várias manobras judiciais, resultaram em um julgamento iniciado em 2024 devido a mudanças no escritório do promotor. Monsalve também afirmou que um advogado de Uribe tentou suborná-lo, gravando encontros em uma câmera escondida.
Cerca de cem apoiadores de Uribe assinaram uma carta de apoio ao ex-presidente. “Sua inocência é um grito pela verdade que não pode ser silenciado. Em seu julgamento evidenciamos a falta de garantias, a violação do devido processo legal e o desrespeito à presunção de inocência.”
No início da audiência, o presidente Petro publicou uma mensagem em sua conta X, dizendo que “a Colômbia não se deixa chantagear”. Petro reagiu a uma publicação do jornal El Espectador na qual se informa que congressistas de Washington e Bogotá estão pedindo medidas contra o país, semelhantes às anunciadas por Trump para o Brasil e relacionando ao caso do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na opinião desses congressistas, o julgamento contra Uribe é “de natureza política”.
Já a senadora e pré-candidata presidencial María Fernanda Cabal, do Centro Democrático (partido de Uribe) disse que foi uma decisão injusta. “Não foi uma decisão contra o ex-presidente, foi um monumento à arbitrariedade judicial e à politização da Justiça.”
Nos EUA, a republicana María Elvira Salazar, congressista da Flórida, publicou que a “a justiça não foi feita na Colômbia hoje. Um ultraje foi cometido contra Álvaro Uribe, o homem que resgatou o país do terrorismo e enfrentou as Farc quando ninguém mais ousou”.
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