As montadoras chinesas de veículos eletrificados (híbridos e elétricos) continuam avançando no mercado brasileiro. Após os movimentos da BYD e da GWM, que implantam fábricas na Bahia e no interior de São Paulo, a Geely – controladora da Volvo – busca sua fatia no mercado e firmou parceria com a Renault para uma possível produção local em São José dos Pinhais (PR).
A montadora chinesa Geely iniciou sua retomada no país com o desembarque de 680 veículos elétricos em Paranaguá (PR) na segunda quinzena de junho, marcando seu retorno ao mercado nacional após nove anos de ausência. O modelo EX5 será o carro-chefe da estratégia da empresa, com vendas previstas para começar ainda neste mês.
O modelo elétrico está exposto em 22 shoppings. O objetivo é o de promover o primeiro contato com o público.
O movimento reflete a intensa competição global e a busca das montadoras chinesas por novos mercados para compensar a guerra de preços em seu país de origem. Para a indústria automotiva brasileira tradicional, o avanço gera preocupações sobre emprego, investimentos e sustentabilidade do setor.
As operações no terminal de veículos do porto paranaense, administrado pelo Ascensus Group, registraram alta de 20% nos cinco primeiros meses do ano, com movimentação de 41,6 mil unidades comparado ao mesmo período de 2023. “O porto de Paranaguá tem se destacado como porta de entrada para veículos no Brasil”, afirma Flávio Rufino, diretor de portos do grupo.
O retorno da Geely ao Brasil tem como pilar central a cooperação com o Renault Group para produção e venda de veículos híbridos e elétricos. A montadora chinesa planeja se tornar acionista minoritária da Renault do Brasil, garantindo acesso à infraestrutura de produção, vendas e serviços da francesa.
O acordo, ainda sujeito a aprovações regulatórias, disponibilizará as duas fábricas da Renault em São José dos Pinhais para produção dos novos veículos de ambas as marcas, mantendo a linha atual de modelos Renault. Não há prazo definido para início da produção conjunta.
A reação da indústria nacional ao avanço dos carros chineses no Brasil
A chegada da Geely ocorre enquanto a BYD consolida forte presença no Brasil após três anos de expansão agressiva. A montadora, que já tem mais de 5% do mercado nacional nas vendas no varejo, apresentou na terça (1º) em Camaçari (BA) os primeiros carros produzidos localmente em fase de testes: o elétrico Dolphin Mini e o híbrido Song Pro.
A ofensiva chinesa preocupa a indústria estabelecida. Igor Calvet, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), alerta que as importações absorveram 54% do crescimento do mercado em maio, enquanto a produção local caiu quase 6%.
A entidade mobilizou-se contra o pedido da BYD para redução do Imposto de Importação de carros semidesmontados (SKD), defendendo a proteção dos empregos na cadeia automotiva nacional. A situação econômica brasileira adiciona complexidade ao cenário, com a taxa Selic em 15% ao ano e inadimplência crescente no setor automotivo.
Contexto global: por que as montadoras chinesas avançam?
A agressividade das montadoras chinesas no Brasil reflete a insustentável guerra de preços no mercado chinês de veículos elétricos, que está desacelerado e enfrenta concorrência acirrada. Fabricantes buscam mercados externos para escoar a produção.
A BYD planeja vender mais da metade de seus carros fora da China até 2030, focando em América Latina e Europa. Porém, governos de diferentes países impõem barreiras crescentes: tarifas de 45,3% na Europa e superiores a 100% nos Estados Unidos. No Brasil e Tailândia, condições também se deterioram com aumento de impostos e redução de benefícios.
Stella Li, vice-presidente global da BYD, admitiu à Bloomberg que a guerra de preços é insustentável, mas confirmou que a empresa continuará investindo pesadamente em mercados internacionais, sinalizando que a pressão competitiva das montadoras chinesa no Brasil deve se intensificar nos próximos anos.
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